CANÇÃO DO VER ( Manuel de Barros )




Por viver muitos anos dentro do mato,
Moda ave...o menino pegou um olhar de pássaro,
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas,
Por igual como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha,
Era só abrir a palavra abelha,
e entrar dentro dela;
Como se fosse infância da língua.

CANÇÃO PENSATIVA ( Lya Luft )




Um toque da solidão
E um dedo severo me traz à realidade:
Não depender dos meus amores,
Não me enfeitar demais com sua graça,
Mas ver que cada um de nós é um coração sozinho !


Cada um de nós perenemente
É um espelho a se mirar,
Sabendo que mesmo se nesse leito frio e branco,
Um outro amor quer derramar-se em nós,
Entre gélido cristal e alma ardente,
Levantam-se paredes para sempre !
( E para sempre a amante solidão nos chama e abraça )

DEFINIÇÃO DE AMOR ( Gregório de Matos )






... O Amor é finalmente...

            Um embaraço de pernas,

         Uma união de barrigas,

   Um breve tremor de artérias,

        Uma confusão de bocas,

    Uma batalha de veias,

    Um rebuliço de ancas,

                          Quem diz outra coisa é "besta" ...

MONÓLOGO DE ORFEU ( Original da Peça "Orfeu da Conceição")

Baseado na Mitologia Grega no Drama de "Orfeu e Eurídice", 
  Original da  Peça Musical  "Orfeu da Conceição", 
Vinicius de Moraes/Tom Jobim






Mulher mais Adorada!

Agora que não estás, deixa que rompa,
O meu peito em soluços! 
Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, Amada...

E sabes de uma coisa? 
Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto,
Se perto, Ah...que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado,
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu... tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem, Ah...nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga,
Esse contentamento, essa harmonia,
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem, 
Esse orgulho de rei.

 Ah..Minha Eurídice...
Meu Verso, Meu Silêncio, Minha Música!
Nunca fujas de mim! 
Sem ti sou nada,
Sou coisa sem razão, jogado, sou pedra rolada...
Orfeu menos Eurídice...

Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos.
Tu és a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga...
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!

A beleza da vida és tu, Amada!
Milhões Amada! Ah...Criatura!
Quem
Poderia pensar que Orfeu:
Orfeu, cujo violão é a vida da cidade,
E cuja  fala, como o vento à flor...
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu..
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dentes brancos,
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento, e aqui  me deixo rente,
Quando voltares, pela lua cheia,
Para os braços sem fim do teu amigo!

Vai tua vida, pássaro contente...
Vai tua vida, que estarei contigo!








AS DEZ COISAS QUE AMO










          Obrigada Lucks Vieira pelo carinho!
              do  Blog:  http://leiturassemcompromisso.blogspot.com


*  As 10 Coisas  que  Amo
 ( Tem Muito Mais, Mas... )


1)   Ler / Aprender Coisas Novas ( Busca Constante, Incessante! )
                    




2)   Família /Amigos ( Sol da Minha Vida!)


           


3) Pássaros / Colibris / Borboletas ( Encantam  o dia! )




4) Chocolatexxs... Todos ( Dão sabor à vida! )





5)  Viajar..Viajar...Viajar...( Novos Ares ! )






6)  Árvores  ( Todas !! )






7) Blogosfera  ( Sempre Surpreendente! )






8) Um Bom Vinho ( Em Boa Companhia! ) 





9) Caminhada na Areia da Praia ( Sem comentários! )







10)  O  In-Comum  ( Me fascina! )






POETA ( Manoel de Barros )







O filósofo Kierkegaard me ensinou 
que cultura é o caminho 
que o homem percorre para se conhecer.


Sócrates fez o  seu caminho de cultura
e ao fim falou que só sabia que não sabia de nada.


Não tinha as certezas científicas.
Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza.


Aprendeu que as folhas das árvores 
servem para nos ensinar a cair sem alardes.


Disse que fosse ele caracol vegetado
 sobre pedras, ele iria gostar.


Iria certamente aprender o idioma
 que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs.


E gostava mais de ensinar 
que  a  exuberância  maior
 está nos insetos  do que nas paisagens.


Seu rosto tinha um lado de ave.
Por isso ele podia conhecer
 todos os pássaros do mundo
pelo coração de seus cantos.


Estudara nos livros  demais.
Porém aprendia melhor no ver, 
no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.


Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens.
Se admirava de como um grilo sozinho,um só pequeno grilo, 
podia desmontar os silêncios de uma noite!


Eu vivi antigamente com 
Sócrates, Platão, Aristóteles - esse pessoal.
Eles falavam nas aulas: 
Quem se aproxima das origens se renova!


Píndaro falava pra mim que usava
 todos os fósseis linguísticos que achava
 para renovar sua poesia.


Os mestres pregavam 
que o fascínio poético vem das raízes da fala.


Sócrates falava que as expressões
 mais eróticas são donzelas.


UM PAR DE ASAS ( Poetisa : Claúdia Anahí )

                                                           



                                                              http://asasdailusao.blogspot.com
                                                                   
Um Par de Asas
Para Voar o Além Mar
Para Inspirar e Alegrar.

Um Par de Asas que me leve ao fundo da alma,
Que me traga a mesma calma
Quando me entrego à paz.

Alço vôo no meu mundo,
Onde crio fantasias
Que torna real
O Amor Incondicional.

Com o Par de Asas,
Lá de cima,
Vejo a Samsara
Como um formigueiro cego,
Frenético e Enlouquecedor.

Graças a essas Asas,
Posso experimentar
O prazer de ser feliz.

Cada vez que eu encontro
Em mim,
A inabalável certeza,
Que tenho olhos para ver,
E um coração para sentir
Além, Muito além do medo,

Que escraviza os Sonhos
E paralisa o viver !

TÃO SUTILMENTE ( Lya Luft )



Tão  sutilmente em tantos breves anos,
Foram se trocando sobre os muros,
Mais que desigualdades, semelhanças,
Que aos poucos dois são um,
Sem que no entanto deixem de ser plurais:
Talvez as asas de um só anjo - inseparáveis.


Presenças, solidões que vão tecendo a vida,
O filho que se faz, uma árvore plantada,
O tempo gotejando do telhado.
Beleza perseguida a cada hora, para que não baixe
o pó de um cotidiano desencanto.

Tão fielmente adaptam-se as almas destes corpos,
Que uma em outra pode se trocar,
Sem que alguém de fora  o percebesse nunca .

O CÚMPLICE ( Jorge Luis Borges )






Crucificam-me e eu tenho de ser a cruz e os pregos.
Estendem-me a taça e eu tenho de ser a cicuta.
Enganam-me e eu tenho de ser a mentira.
Incendeiam-me e eu tenho de ser o inferno.
Tenho de louvar e de agradecer cada instante do tempo.


O meu alimento são todas as coisas.
O peso exato do universo, a humilhação e o júbilo.
Tenho de justificar o que me fere,
Não importa a minha felicidade ou infelicidade,
Sou  o  Poeta !

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