AMOR PACÍFICO E FECUNDO ( Rabindranath Tagore )




Não quero amor
que não saiba dominar-se,
Como vinho espumante,
Que parte o copo e entorna,
Perdido num instante.

Dá-me o amor fresco e puro
Como a chuva,
Que abençoa a terra sequiosa,
E enche as talhas do lar.

Amor que penetre até ao centro da vida,
E dali se estenda como seiva invisível,
Até aos ramos da árvore da existência,
E faça nascer as flores e os frutos.

Dá-me esse Amor 
Que conserva tranquilo o coração,
Na plenitude da Paz !

" UMA PEQUENA FOLHA" e "AMANTES " (Pablo Neruda)


 

"UMA PEQUENA FOLHA"
 
Tu eras também uma pequena folha

Que tremia no meu peito.

O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: 

não soube que ias comigo,

Até que as tuas raízes

Atravessaram o meu peito,

Se uniram  aos fios do meu sangue,

Falaram pela minha boca,

Floresceram comigo.




"AMANTES " 

Dois Amantes Felizes não têm fim, nem morte,

Nascem e Morrem tantas vezes enquanto vivem,

São eternos...   Como a Natureza...


POEMA - ( Lya Luft )



Já não procuro a palavra exata que me pudesse explicar:
Ando pelos contornos onde todos
os significados são sutis, são mortais.

Não busco prender o momento belo:
Quero vivê-lo sempre mais com a intensidade que exige a vida,
Com o desgarramento do salto e da fulguração.

E me corto ao meio... e me solto de mim... duplo coração:
                                     
                                              a que vive,
                                 a que narra,
                      a que se debate,

                                              e a que voa... na loucura que redime da lucidez...

COMPREENDI QUE... ( Rubem Alves )


Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza,

tem que ser tocadas até o fim.

Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minis sonatas.

Cada momento de beleza vivido e amado,

por efêmero que seja,

é uma experiência completa que está destinada à eternidade.


Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira.


AUSÊNCIA (Vinicius de Moraes )



Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces,
 Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida,
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto,
E em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gôta de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
  Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos
E tu desabrocharás para a madrugada -
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu,
        Porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos,
         Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar,
                                                    do vento,
                                                do céu,
                                                   das aves,
                                                           das estrelas;
                                                   Serão a tua voz presente,
                                                  a tua voz ausente, a tua voz serenizada!

O CAÇADOR DE RAÍZES ( Pablo Neruda )



Eu pertenço à fecundidade,
E crescerei enquanto crescerem as vidas:
sou jovem com a juventude da água,
sou lento com a lentidão do tempo,
sou puro com a pureza do ar,
escuro com o vinho da noite
e só estarei imóvel quando seja
tão mineral que  não veja nem escute,
nem participe do que nasce e cresce.

Quando escolhi a selva
para aprender a ser,
folha por folha,
estendi minhas lições
e aprendi a ser raiz, barro profundo,
terra calada, noite cristalina,
e pouco a pouco mais, toda a selva.

CANÇÃO PARA UM DESENCONTRO ( Lya Luft )



Deixa-me errar alguma vez,
Porque também sou isso: incerta e dura,
e ansiosa de não te perder
Agora que entrevejo um horizonte.

Deixa-me errar e me compreende
Porque se faço mal é por querer-te
desta maneira tola e tonta,
Eternamente recomeçando a cada dia
como num descobrimento dos teus territórios de carne e sonho,
dos teus desvãos de música ou vôo,
teus sótãos  e porões
e dessa escadaria de tua alma.

Deixa-me errar mas não me soltes
para que eu não me perca
deste tênue fio de alegria
dos sustos do amor que se repetem
enquanto houver entre nós essa magia!

A QUEM MAIS EU PODERIA DOAR MEU CORAÇÃO? ( João Maria Ludugero)




Não temo a lida
Eu acredito na força do braço
Eu pego a trilha entre a planície e o precipício,
Caminho entre um dia conturbado outro sereno,
Compelindo-me ora ao néctar ora ao veneno,
Entre o autocontrole e o vício.
Eu enfrento meus bichos,
Dou espaço ao deslizar do tempo
Eu me movo disso, e consigo
Entre as favas contadas e o desperdício,
Entre coisas vastas e as pequenas,
Na escada dos meus erros chego ao pleno,
Vislumbro luz ao final do sacrifício,
E acho paz após o obscuro fim do túnel.
Sigo Deus mas sem seguir doutrinas,
Vejo grandeza nas coisas pequeninas,
Sei que há um escaninho em mim, 
Um cofre de guardar gratidão.
Caio, levanto, ergo-me, sacudo a poeira
Choro e sorrio juntando meus pedaços,
Vou correndo os nós, desatando o essencial,
Sem carecer de ir cortando os laços,
Buscando pouco a pouco a perfeição.
Quem sabe um dia eu possa me doar inteiro,
Quem sabe através da poesia que me guarda em vida,
Eu me sinta a salvo, bem encaixado
A bater valente noutro coração.

CONTATO ( Virginia Satir)




Acredito que o maior presente 
que alguém pode me dar é:
ver-me,
                          ouvir-me,
                                                              compreender-me,
                                 e 
                                                             tocar-me.


O maior presente que eu posso dar é:
ver,
                   ouvir,
                                             entender,
                                     e 
                                                                       tocar o outro.


Quando isso acontece,
sinto que fizemos contato.

CANÇÃO DO AMOR SERENO ( Lya Luft )




Vem sem receio: Eu Te Recebo...

Como um dom dos deuses do deserto
 que decretaram minha trégua,
e permitiram que o mel de teus olhos me invadisse.

Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam,
mas contornem teu raro perfil,
como lábios tocam um anel sagrado.

Quero que o meu amor te seja enfeite e conforto,
porto de partida para a fundação do teu reino
em que a sombra seja abrigo e ilha.

Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.


SE EU MORRER PRIMEIRO DO QUE VOCÊ ( Fátima Irene Pinto)



Se eu me for primeiro do que você,
não se esqueça de orar por mim alegremente.

Não me visite na minha tumba porque eu não estarei lá.

Se eu me for primeiro do que você  e bater saudade,
procure-me nas estrelas, nas pétalas de flores, no primeiro raio matutino e também no último.

Se sentir saudade de mim, veja-me borbulhando na água de uma nascente,
ouça-me numa sinfonia de Mozart, numa valsa de Strauss ou em qualquer retreta, destas que ainda tocam nas praças.

Se eu me for primeiro do que você, converse comigo como antes.
Conte-me as suas alegrias, as suas mancadas, as suas piadas, as suas tristezas, 
reclinando no tronco de um jequitibá ou de qualquer outra árvore de copa ampla  e bem verdinha,
destas que dão sombra e ficam cheias de passarinhos.

Mas é certo que você também me encontrará nos flocos de nuvens,
nos arco-íris e em especial, naquela gotinha espelhada e solitária pendente numa folha de arruda.

Se ouvir um solo de violão bem tocado, pense em mim.
Se ouvir apitos de trem, pense em mim.
Se estiver dançando livre e leve em compasso ritmado como se o seu corpo e o rítmo fôssem uma espécie de oração, pense em mim.

Se eu me for primeiro do que você, encontre-me numa sala de aula
porque eu jamais desistirei de aprender e de ouvir os ensinamentos de muitos mestres e mestras.
Estarei também numa noite de luar, mas não em qualquer luar.
Tem que ser um luar do sertão.

Pense em mim quando chegar dezembro e começarem as primeiras canções natalinas,
quando estiver montando a árvore e colocando os presentes sob ela, 
quando os fogos coloridos espocarem  no céu à meia noite.

Também estarei na brisa leve que acaricia seu rosto e por que não,
naquela rajada mais forte que chacoalha o arvoredo antes da chuva,
no perfume da chuva quando se mistura com a terra 
e na doce canção que acontece quando ela desliza mansinha pelo telhado.

E se você for primeiro do que eu, saiba que não chorarei no seu túmulo.
Orarei por você do meu jeito, farei muitos poemas pensando em você,
rirei de todas aquelas coisas que o faziam rir,
falarei para você que estou com saudade 
e verei a sua "onipresença" em todas as coisas onde você costumava colocar a sua alma
porque certamente é lá que estarás.

Jamais estaremos separados!

Ainda que você esteja momentaneamente invisível aos meus olhos humanos,
estarás mais vivo e mais presente do que nunca em tudo aquilo 
que aqui na terra você amou, e na eternidade, 
onde me esperará e me receberá com alegria quando eu puder ir ao seu encontro.
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