SONETO A QUATRO-MÃOS ( Vinicius de Moraes e Paulo Mendes Campos )



  
Tudo de Amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de Amor foi dito.
Do nada em mim o Amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.



Tão pródigo de Amor fiquei coitado
Tão fácil para Amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.



Tenho dado de Amor mais que coubesse,
Nesse meu pobre coração humano,
Desse eterno Amor meu antes não desse.



Pois se por tanto dar me fiz engano,
Melhor fora que desse e recebesse,
Para viver da vida o Amor sem dano.



DESTINO DOS VERSOS ( Alberto Caeiro, por Fernando Pessoa )





Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a humanidade...


E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.


Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão  já longe como que na diligência 
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os lerá ?
Quem sabe a que mãos irão ?


Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim !
Passa a árvore e fica dispersa pela natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.
Passo e fico, como o Universo...


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